terça-feira, 19 de abril de 2011

A PRINCESA DE PÉTALAS


Caminho ouvindo os estalos da madeira velha, dentro de meu quarto é tudo muito escuro, é tudo tão úmido e sombrio, ando só, porque ninguém mais se atreve a entrar aqui, as janelas estão lacradas com uma madeira tão velha quando a do assoalho; ainda enxergo a mobilha talhada a mão, a cama de casal, devido a uma pequena fresta de luz, a qual também permite que uma leve brisa entre, às vezes traz algumas folhas secas, às vezes a chuva, mas nunca vem só, e temo quando resolve trazer lembranças.

Este lugar nem sempre foi tão triste, solitário e quieto; há um tempo, não tão distante, existiu uma mulher que ousou e entrou neste, transformando-o num lugar melhor, me ensinou a importância das coisas belas, e me encheu de luz, amor; aquelas tristes folhas murchas, já foram estonteantemente lindas, e o lençol sujo e rasgado um lugar quente para se deitar.
Começávamos a simular alguns passos para fora do quarto, eu nunca imaginara que tantas cores podiam conviver harmonicamente, que poderia ser tão feliz, e que existiam outros semelhantes a mim, ou nem tanto. Nosso amor era puro, tão puro que era de causar invejar.
Uma noite então, enquanto dormíamos tranquilos, algo entrou em meu quarto, destruiu tudo, e nem ao menos vi; quando acordei estava com as roupas manchadas do vermelho néctar de vida que brotava das veias de minha amada, e que agora secava, morto em mim, as pessoas me olhavam com medo, outros com dó, não havia feito nada, não entendia, entrei em meu quarto, e notei um bilhete, sujo que dizia: “Do pó que vieste este amor, brotou em mim de inveja a mais profunda dor, e que agora também és tua”.
Alguns casais na mesma noite foram separados, ninguém sabia ao certo o que acontecera, alguns sumiram, outros se mataram pois não agüentavam viver sós, eu me tranquei.

“OH que mundo! Tirou a coisa que realmente me importava, Oh desgraça que levou de mim quem amava, desta vida não esperarei mais nada, traçar-me-ei em meu quarto, sozinho sem minha amada”, mas eles não se importavam, colocavam seus grandes olhos em minha janela, para ver se eu ainda pensava nela, ou então para ver se estava morto também, a solução veio então como um trovão, lacrei as janelas com alguma madeira do chão.
Os anos e passaram, e minha dor aumentava, do outro lado da janela os pássaros cantavam, e eu pouco os escutava, foi quando em uma noite algo mágico aconteceu, meu amor, em minhas lembranças reapareceu!

Dizia a ela: “Esta tão difícil respirar, sem ter você do meu lado; Estou farto de admirar, sonhar, planejar, quero viver, e quem sabe ser feliz, mas sem você não dá!”.
A brisa me respondeu: “Minha mente viaja nas cifras de nossa canção, e meu coração dança no ritmo de nossa paixão”
Retruquei desesperadamente então: “Encho o peito do nada que me rodeia, procurando vestígios de seu perfume, abro os olhos, e procuro o brilho do seu, mas esta tudo tão escuro, e nada vejo”
“ Meu amor, não veras mais, não pertenço a este mundo, sou só pó em sua estrada, e mais nada, saia e viva!”
Estou só, preso as paredes de meu castelo, e meu único conforto é pensar no aconchego de seu colo, em seu sorriso encantador, insto amansa meu coração, e diminui minha dor, não conseguirei viver sem você!

Uma leve brisa passa, e arrasta consigo minhas lembranças; vejo-as desfazendo diante de meus olhos, e como poeiras se espalham pelos móveis, mas aquela não foi capaz de destruir todo o sentimento que construí, continuo hipnotizado pelas curvas de minha doce amada.
Nossa a caixa de musica abre misteriosamente, os grãos de pó que estavam estagnados nos móveis começam a serem arrastados pelo vento, e como bravos soldados que são rumam em minha direção. Junto à brisa começam a entrar milhares de pétalas e timidamente do chão começam a subir delineando seus traços, formando a princesa que sonhei; diante de mim surge a mulher, linda como sempre, me convidando para um dança.
Meus olhos se encheram de lágrimas nostálgicas, digo: “Leve-me com você?”
Com um sorriso meigo retrucou, “Não posso, será a ultima vez que me veraz, passarei a noite contigo, e ao amanhecer irei embora, seguiras tua vida”.
Como era de se esperar aceitei a proposta, daria tudo por um momento a mais, no entanto o que não sabia é que com um toque impreciso minha dama de pétalas se desfaz.
Desesperadamente, chamei seu nome, ainda não amanhecera por tinha indo embora?; foi quando um sopro adocicado em minha orelha me fez olhar para trás, e assim pude vê-la em nossa cama, dançando, rodopiando com seu delicados pés.
Pude então tocá-la, senti-la sem prejuízo, cada pedaço de seu corpo, a textura de sua pele era a mesma das pétalas, dançamos uma noite inteira.
Acordei coberto por pétalas, e sonhos, decidido a viver, finalmente caminhei ainda meio embriagado de sono em direção a porta, a maçaneta velha cedeu em minha mão, a porta rangendo foi abrindo lentamente, pude então sentir o calor do sol esquentando minha pele, foi um novo amanhecer, o dia em que acordei de um sonho, estava disposto a viver novamente.

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